Você já se perguntou por que, mesmo após uma noite de sono, continua cansado? Ou por que sente irritação, apatia e um peso constante em simplesmente cumprir o básico do seu dia? Em um mundo que exige performance, produtividade e presença integral em todas as esferas da vida — trabalho, casa, família, relações — é cada vez mais comum encontrar pessoas em estado de exaustão profunda. Esse estado tem nome: Burnout.
O Burnout é uma síndrome reconhecida pela Classificação Internacional de Doenças (CID-11) como um fenômeno ocupacional, caracterizado por três dimensões principais: exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal. No entanto, sua manifestação vai além do ambiente de trabalho e invade outras áreas, especialmente quando o sujeito se vê no papel de “sustentar tudo”.
Do ponto de vista neurocientífico
O Burnout envolve uma ativação prolongada do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, responsável pela liberação de cortisol, o hormônio do estresse. Em situações crônicas, essa ativação compromete o funcionamento do hipocampo (essencial para a memória e o aprendizado) e altera a função do córtex pré-frontal (relacionado ao planejamento, regulação emocional e tomada de decisão). O resultado é uma mente sobrecarregada, menos eficiente e emocionalmente instável.
É comum observar que pessoas com Burnout apresentem dificuldades de atenção, queda no rendimento intelectual, lapsos de memória, além de sintomas físicos como dores musculares, insônia, palpitações, problemas gastrointestinais e baixa imunidade. Neuropsicologicamente, isso pode se manifestar como prejuízos executivos: dificuldade para priorizar, organizar tarefas, manter o foco e sustentar ações ao longo do tempo.
O Burnout também está relacionado a padrões de funcionamento que envolvem alta exigência interna, dificuldade de delegar, perfeccionismo, autocobrança exacerbada e a crença — muitas vezes inconsciente — de que seu valor está no quanto entrega, no quanto suporta. Por isso, não raro, ele aparece em profissionais brilhantes, prestativos, leais, mas emocionalmente esgotados.
Um ponto importante é que nem sempre o Burnout se mostra de forma explosiva.
Em muitos casos, ele é silencioso, gradual, e só é percebido quando os prejuízos já se instalaram. Por isso, avaliar seu funcionamento atual é essencial. Você tem conseguido descansar de verdade? Suas emoções parecem à flor da pele ou ausentes? Sua capacidade de concentração e criatividade está como antes? Tem se sentido desmotivado, mesmo com coisas que antes davam prazer?
A avaliação neuropsicológica pode ajudar a identificar os impactos desse processo em áreas cognitivas e emocionais importantes, servindo como um norte para a reconstrução do equilíbrio interno. Mais do que um diagnóstico, ela pode ser o início de um percurso de autoconhecimento e de cuidado real com sua saúde mental. É possível se reorganizar, encontrar novos ritmos, delegar, descansar, reaprender a dizer não e a se incluir em sua própria lista de prioridades. Não é sinal de fraqueza, mas de coragem. Afinal, sustentar tudo o tempo todo talvez não seja humano. E você é.