Essa pergunta, que à primeira vista pode parecer simples, carrega um fundo existencial profundo. Em algum momento da vida, muitos se veem diante dela — às vezes após o fim de um relacionamento, outras vezes no silêncio de uma solidão inesperada, ou ainda em meio a uma vida a dois que já não inspira mais conexão.
Desde cedo, aprendemos que o amor romântico ocupa lugar de destaque nas promessas de felicidade. Filmes, músicas, discursos familiares e até mesmo estruturas sociais reforçam a ideia de que encontrar “alguém” é quase uma condição para ser inteiro. Como se a solidão fosse sinônimo de fracasso e o par amoroso, uma espécie de troféu de completude.
Mas será que a felicidade é mesmo algo que o outro pode nos entregar?
Do ponto de vista existencial, somos seres em constante construção. E, nesse caminho, o encontro com o outro pode, sim, ser uma experiência rica, potente, transformadora — mas não é (e talvez nunca tenha sido) a única via possível para a realização pessoal. Quando toda a nossa esperança de felicidade é depositada no outro, corremos o risco de nos desconectarmos de nós mesmos. É aí que surge a dependência emocional, a sensação de vazio fora do vínculo, o medo intenso de abandono ou de ficar só.
Na prática clínica, é comum encontrar pessoas que, ao longo da vida, se adaptaram tanto ao outro que deixaram de escutar suas próprias vontades. E o mais curioso: muitas vezes isso não vem da falta de coragem, mas de um enraizamento profundo em modelos de amor baseados em sacrifício e fusão. A pergunta, então, talvez precise mudar: “Com quem estou, quando estou comigo mesmo(a)?”
Buscar um relacionamento afetivo pode ser um desejo legítimo e bonito.
Mas é importante que esse desejo nasça de um lugar interno de abundância, e não de carência. Quando nos responsabilizamos por nossa própria felicidade, o outro deixa de ser um preenchimento e passa a ser uma companhia. Isso muda tudo: muda a forma como escolhemos, como permanecemos e, inclusive, como partimos quando necessário.
A felicidade, então, talvez não esteja em ter ou não alguém ao lado. Mas em encontrar sentido, conexão e presença no modo como vivemos — acompanhados ou não.