Há momentos em que o olhar sobre si se torna estreito demais. Tudo o que se enxerga são falhas, ausências, marcas que pesam. As comparações, antes apenas incômodas, passam a moldar o dia a dia: com colegas, com conhecidos nas redes sociais, com versões idealizadas de quem se “deveria ser”. Aos poucos, essa percepção vai minando a confiança e afetando o modo como a vida é vivida.
A baixa autoestima vai muito além da aparência.
Ela se expressa na dificuldade de reconhecer os próprios limites, na constante autocrítica, na sensação de nunca ser suficiente — seja no trabalho, nas relações, nas escolhas pessoais. E, muitas vezes, vem acompanhada de culpa por se sentir assim, como se fosse um erro enxergar-se com tanta fragilidade.
Esse sentimento raramente surge do nada.
Ele costuma ter raízes profundas: experiências precoces de desvalorização, críticas constantes, relações afetivas marcadas por exigência, abandono ou indiferença. Às vezes, chega após uma decepção, uma perda, uma ruptura, um ciclo que se encerra sem aviso. Outras vezes, vai se instalando aos poucos, silenciosamente, até parecer parte natural da personalidade.
Quem vive com baixa autoestima frequentemente se mostra gentil com o mundo, mas impiedoso consigo. Há dificuldade em dizer “não”, em reconhecer o próprio valor, em sustentar escolhas que contrariem expectativas. A imagem de si se torna um espelho distorcido: por mais que haja conquistas e afeto ao redor, algo sempre parece faltar dentro.
E é justamente por dentro que o resgate começa. Quando há espaço para ser escutado com respeito, sem julgamento, com interesse real por aquilo que é vivido, o que antes parecia frágil pode se revelar legítimo. A terapia se torna um lugar de reaproximação: não de uma versão idealizada de si, mas da própria presença, com tudo o que carrega — inclusive suas incertezas. Baixa autoestima não significa ausência de valor, mas uma desconexão temporária com a própria essência. E, ao se permitir habitar esse espaço de cuidado, é possível reencontrar um modo mais generoso de se perceber e de se colocar no mundo.